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“Vozes de Burro não chegam ao céu”, mas falam Mirandês

  • Foto do escritor: Contemporâneo Jornal
    Contemporâneo Jornal
  • 10 de jan. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de out. de 2024

É no Planalto Mirandês, na aldeia de Atenor, onde o tempo parece desacelerar e a tradição se entrelaça com a natureza. Nesta aldeia, em particular, há um pequeno grupo de indivíduos dedicados a trabalhar para preservar uma raça única: o Burro de Miranda.


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Burros de Miranda, em Atenor. Foto: Nádia Neto

Este burro, muitas vezes referido como sapador florestal, terapeuta, ou simplesmente companheiro de caminhadas, tem um papel fundamental na ecologia local e no tecido cultural desta região do planalto mirandês. Porém, devido à industrialização agrícola e ao êxodo rural, “o burro ainda está em risco de extinção”, afirma Joana Braga, presidente da Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA). Desde 2001, a associação tem lutado por esta espécie, de modo a reverter esse declínio.  Embora, tenha crescido em número, a espécie do Burro de Miranda enfrenta um caminho árduo para sair do risco de extinção. Com 652 fêmeas e 109 machos reprodutores, a associação tem um plano de reprodução consciente.

 

Quando a associação surgiu havia o registo, de mais ou menos, 8 a 10 nascimentos por ano. Hoje em dia, os dados são mais animadores, “temos cerca de 100 nascimentos por ano, o que já é muito positivo. Contudo, a nossa grande preocupação é pensarmos numa reprodução consciente, em que se reproduz, mas também são encontrados donos que tenham consciência do bem-estar e dos cuidados que estes animais necessitam", explica Joana Braga.



A consciencialização dos criadores locais é crucial, não apenas para a reprodução, mas também para garantir que os animais tenham uma vida saudável. A associação tem trabalhado para preservar as características genéticas da raça, desde a pelagem longa até à cabeça volumosa e ao risco branco em torno dos olhos.

 

Na Associação, o burro de Miranda é protegido e cuidado desde o seu nascimento. Os Lameiros, mais do que meras pastagens, são o berço de biodiversidade, um espaço dedicado à maternidade. É lá onde os burros de Miranda encontram um refúgio assim que dão à luz. Além deste Centro de Valorização dedicado à reprodução da raça, localizado em Atenor, a Associação do Burro de Miranda tem outros dois centros: o Centro de Acolhimento, em Pena Branca, que cuida dos burros mais velhos, resgatando aqueles, cujos donos já não podem tratar deles, e o Centro de Atividades Lúdico-Pedagógicas, em Vimioso, com especial enfoque na educação, que acolhe visitas de escolas e instituições.

 

Ser padrinho de um burro de Miranda

 

Em 2005, a Associação lançou uma campanha de apadrinhamento, como forma de garantir a sua sustentabilidade financeira. Atualmente, já conta com cerca de 1200 padrinhos, o que contribui para melhorar as condições de vida dos burros e apoiar as iniciativas educativas. “As pessoas podem escolher o animal com qual mais se identificam, preenchem um formulário e apoio mínimo por ano é de 30 euros”, esclarece Joana Braga.

 

Além de preservar uma raça única, a Associação do Burro de Miranda sonha com um projeto e que prevê que seja aprovado para levar estes animais a lares de idosos, reacendendo laços que o tempo rompeu. “A maioria das pessoas de idade, institucionalizadas em lares, teve um burro e quebrou-se esse elo com a ida para o lar. Nós agora o que pretendemos fazer é, ter visitas mais frequentes com essas pessoas do lar e proporcionar, pelo menos, duas vezes por semana, a visita aos burros, fazer uma caminhada, e tentar entusiasmar para o envelhecimento ativo, na presença do animal.”, explica a presidente da AEPGA.


À medida que a associação avança, o futuro do Burro de Miranda promete ser, mais do que uma mera história de sobrevivência, uma narrativa de renascimento e continuidade. O Burro de Miranda é, assim, considerado" um símbolo de resistência cultural e ambiental, um testemunho vivo da ligação entre comunidades, animais e natureza".

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