A raça de vaca mirandesa é única na região de Miranda do Douro
- Contemporâneo Jornal
- 9 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de out. de 2024
Tal como o Burro de Miranda, a raça de vaca mirandesa é a única da região. Na Associação dos Criadores de Bovinos da raça mirandesa, em Malhadas, as vaca apresentam características especiais.

A raça mirandesa destaca-se visualmente pelas suas características morfológicas. De porte grande em comparação com outras raças autóctones, possui uma cabeça com testa larga, focinho curto, chifres e uma marcante "marrafa" ou franja. A pelagem bicolor, mais escura nas extremidades, é outra característica distintiva, bem como os pelos brancos ao redor dos olhos e focinho. Detalhes como "pelindrencos" nas orelhas e a “estriga” ponta do rabo, são traços singulares da raça.
A criação de vacas mirandesas varia conforme o clima e os sistemas de exploração. Apesar de alguns rebanhos permanecerem em pastagens durante todo o ano, muitos criadores utilizam sistemas mistos, alternando entre pastagens e reservas alimentares durante o inverno. Os desafios climáticos, influenciam a escassez de pasto, o que exige medidas como a importação de alimentos.
Valter Raposo é o Secretário Técnico do Livro Genealógico da raça e explica a importância deste tipo de bovinos: “Antes da mecanização da agricultura, nos anos 60, 70, era a raça de bovinos mais importante que havia no país, pelas aptidões que tinham para o trabalho. Ou seja, a raça mirandesa, desde daqui de Trás-os-Montes até ao Alentejo, era importante porque era muito rústica para o trabalho”.
Com a mecanização da agricultura , o propósito da espécie evoluiu, direcionando-se cada vez mais para a produção de carne, dando assim origem à famosa “Posta Mirandesa", uma prova da excelência da carne mirandesa apreciada por muitos. Esta carne suculenta, destaca-se pela cor avermelhada, devido ao alto teor de ferro e mioglobina, proporcionando uma experiência gastronómica única. A carne está certificada com o selo de Denominação de Origem Protegida (DOP), o que garante que o animal nasceu, cresceu e foi abatido na região de origem.
Quanto às dúvidas sobre o melhor sítio para comer uma posta Mirandesa, Valter Raposo deixa uma sugestão: “Há um certificado à entrada do restaurante, para perceber se a carne é mirandesa, com uma vaquinha desenhada. (A posta) é mirandesa só se for de raça mirandesa.”
Da brasa ao prato: a história da posta mirandesa
Carlos Ferreira, geógrafo, antigo professor de mirandês e administrador-delegado da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, explica qual é a origem da posta mirandesa.
“Recentemente, três produtos em Portugal inundaram os restaurantes em todo Portugal. Um deles é a posta mirandesa.”, afirma Carlos Ferreira. No entanto, isto não foi sempre assim. A posta mirandesa, reconhecido prato português, teve o seu começo na rua, não num restaurante.
Em Miranda do Douro, por causa de fatores geográficos, viveu-se sempre com base no gado. Portanto, na região, durante muitos anos, houve um conjunto de feiras de gado. “Havia sempre uns taberneiros e ambulantes que iam de feira em feira. Eles faziam uma braseira e matavam um animal. Podia ser uma ovelha, um porco ou uma vaca. Depois, assavam a carne no sol, com sal e mais nada. Era uma posta, tirava-se do lume e punha-se em cima do pão”, explica Carlos Ferreira. Em mirandês, existe o verbo “poner”. Desta forma, dos antepassados, surge o nome posta mirandesa para o prato típico da região.
Seriam “os primeiros fluxos turísticos”, como os define Carlos Ferreira, os eventos que transformariam a posta no que é hoje. Durante a construção das barragens de Miranda do Douro, grandes grupos de engenheiros chegaram à região, com dinheiro e vontade de comer os pratos típicos da região. Foi a influencia deste grupo e de uma mulher chamada Tigra Vila, o que levou a posta das feiras, para os restaurantes.
“Uma pessoa de Sendim, a Tigra Vila Velha, emigrou para França. Durante anos, esteve na zona do Champagne a trabalhar numa espécie de castelo, na área da cozinha. Ela teve contacto com a cozinha francesa e com os molhos, que é a essência da cozinha francesa. Depois, voltou para Portugal e estabeleceu uma taberna aqui na praça, que ia as feiras também.”, conta Carlos Ferreira. “Os engenheiros queriam comer bem e autêntico. Então iam à taberna da Tigra Vila, porque não havia restaurantes, não havia nada. Na tasca, era servida uma perdiz, um coelho e uma posta. Portanto, a posta começou a sedentarizar. Nasce um fenómeno cultural aqui extremamente interessante”, conclui.
Na taberna da Tigra Vila, a posta era servida com batatas fritas e com um molho especial, inspirado na cozinha francesa, feito com vinagre, azeite e o suco da carne. Outros restaurantes surgiram em Miranda do Douro e também preparavam a posta. O prato tornou-se cada vez mais popular.
Sobre a divulgação da posta pelo país, Carlos Ferreira afirma que a qualidade do prato foi o que facilitou a sua aceitação: “O que é bom, se replica. E depois ficou aquele nome, ainda por cima mirandês, que é um nome também diferenciador.”

















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