Projeto Resistentes: Fintar o medo através do desporto
- Nádia Neto

- 4 de dez. de 2023
- 5 min de leitura
Um dia diferente e solidário na vida dos jovens que lutam contra o cancro é o objetivo do projeto “Resistentes”. O projeto tenta mudar o rumo da batalha ao promover atividades desportivas em oncologia pediátrica para fortalecer a autoestima dos jovens e também criar convívio com as famílias.
Ao fintar o medo, estes jovens encontram apoio nos “Resistentes”. Um projeto que não se limita apenas à prática desportiva, é um apoio para jovens que enfrentam uma doença grave. Além de atividades desportivas, o projeto promove momentos de convívios entre as famílias e ainda desafia as comunidades locais, de onde os jovens são naturais, a fazer parte desta onda solidária e organizar eventos desportivos para criar dias diferentes.

O Contemporâneo esteve à conversa com a mente por detrás do projeto, Alberto Nogueira, coordenador da equipa de voluntariado do IPO do Porto, há doze anos. O projeto “Resistentes” já conta com onze anos.
A paixão com que Alberto fala do voluntariado é contagiante, começa por dizer que sempre esteve ligado ao voluntariado. Até chegar a coordenador da equipa de voluntariado do IPO do Porto, fez um estágio, em que bastava vir uma vez por semana, mas veio sempre mais dias.
O projeto “Resistentes” nasceu da sua atividade desportiva. Têm formação na área do desporto, mais propriamente, no futebol. Aliás, com o projeto surgiu a equipa de futebol da pediatria do IPO do Porto.
“Eu joguei futebol e depois dediquei-me só à formação. Em 1980, tirei o curso. De lá até cá, vou a todos os congressos, vou aos fóruns e faço todas as formações”, explica. Tem o nível máximo de formação, pode treinar todos os clubes até os de primeira. Mas também pode treinar jovens com condições especiais, que só querem voltar a sentir a normalidade.
Pode-se dizer com certeza que experiência não falta a este treinador. E foi a essa experiência que o levou, quando chegou pela primeira vez ao IPO do Porto, em abril de 2010, a dizer: “eu vou criar aqui uma atividade desportiva”. Depois destas palavras, passou a ser “a menina dos meus olhos”.
O que fez? Começou por interagir com as crianças, na pediatria do IPO. A conversa era sempre a mesma: “Eu vou criar aqui uma atividade desportiva e vai ser aquilo que tu quiseres”.
“Comecei a interagir, hoje, amanhã, depois com as crianças, com adolescentes e depois comecei a falar com os pais”. E alguns perguntavam logo: onde é que são os treinos?
Não é de admirar. Recorda que muitas crianças, diziam, quando começavam os tratamentos: “eu jogava, mas tive que deixar”. Desde o início, pensou sempre na parte motivacional e psicológica ligada ao desporto. Apesar de não ser da área da psicologia, acredita que “os treinadores e os técnicos têm de ter alguma psicologia” e foi motivação que quis dar às crianças: “tu não podes agora, mas vai poder”. E, nestas conversas, explicava o processo para as tranquilizar: “sabem que tem uma fase de tratamentos, depois um dias vais entrar em manutenção e vigilância, depois vais falar com a tua médica ou com o teu médico para saberes quando podes voltar à atividade desportiva”. A iniciativa não visa apenas a superação física, por meio do desporto, mas também a construção de um suporte para enfrentar a batalha.

E foi assim que tudo começou. Apesar de todas as crianças só falarem no futebol e o projeto estar mais ligado a esta prática desportiva, não descarta as outras modalidades e quer proporcionar sempre dias diferentes aos jovens e conta sempre com a ajuda das comunidades para organizar atividades.
“É aquilo que eles quiserem, por isso, quando vamos para uma atividades, nós vamos passar um dia diferente e é sempre aquilo que eles quiserem. Eles querem jogar basketball, voleibol, andebol, natação, é aquilo que eles quiserem”, explica. Alguns resistentes já tiveram oportunidade de ter aulas de bilhar na academia do Futebol Clube do Porto, também já foram aprender golfe e estão agora a aprender padel. É um projeto que já começa a dar frutos. Já há resistentes que são verdadeiros atletas oficiais, em canoagem, futebol e andebol. Resumindo, o projeto abrange todas as atividades que os próprios resistentes quiserem.
E, assim, o projeto foi abrindo portas. Admite que conciliar treinos é complicado, mas o importante é que as crianças vão aos torneios e aproveitem a experiência. Com o tempo, quando chegava ao IPO, tinha sempre alguém a perguntar-lhe quando e onde iam treinar. Então, dizia: “Sabes vou ter dar uma camisola personalizada com o teu nome, com o logo do resistentes e o número que tu quiseres”. Teve, então, de começar a angariar fundos para criar os primeiros equipamentos e a escolher os números de cada jogador, todos queriam o número 7.
O pontapé inicial foi dado por Cristiano Ronaldo
Como está muito ligado à área do desporto e dos treinadores, faz parte da associação nacional de treinadores de futebol, é um dos sócios mais antigos. A associação nasceu em 1980 e é sócio dessa altura, portanto, há 43 anos. Dessa forma, tem acesso privilegiado aos assuntos do futebol.
Quando o projeto tinha pouco mais de um mês, a seleção nacional de futebol vinha jogar ao Estádio do Dragão, “e um tempinho antes deu-me o clique”, falou o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol e conseguiu que os jogadores viessem visitar a pediatria do IPO. Era a oportunidade perfeita para mostrar que o projeto dos “Resistentes” valia a pena.
Os jogadores Cristiano Ronaldo e Pepe visitaram a pediatria, Alberto recorda que a sala estava cheia. Nem tarde, nem cedo, quando houve uma abertura, pediu a palavra e disse aos jogadores: “Eu tenho aqui um projeto com um mês e gostava que o apadrinhassem”.
“O Ronaldo disse logo quero ser o primeiro e a dar o pontapé de saída” e assinou o projeto, afirma. O Pepe também assinou, assim como o antigo treinador, Paulo Bento.
Depois deste contacto com a federação e, como disse Ronaldo, e bem, pontapé de saída, sempre que há jogos da seleção, os resistentes conseguem bilhetes para irem ver os jogos. “Fomos ver vários jogos, em que eles (Pepe e Ronaldo) estiveram mais do que uma vez, ao longo destes onze anos”, completa. Aliás, Alberto considera que é “um pedinte para os resistentes”.
Torneios à moda dos Resistentes
Os torneios são organizados em parceria com as comunidades locais. São torneios com regras diferentes, à moda dos resistentes. Para o autocarro sair com a equipa, um enfermeiro ou um médico tem de os acompanhar, sublinha Alberto. Mas reforça que nunca houve nenhum problema com algum resistente durante os torneios.

Há também um maior cuidado com o contacto físico, Alberto até costuma ligar antes às equipas adversárias explicar, que apesar desses cuidados, “também deixem jogar os nossos um bocadinho, mas que joguem também”. Isto porque, normalmente, são muito generosos e até deixam fazer tudo, “eles deixam marcar golos e é uma festa”. Se os Resistentes jogassem num campeonato, talvez fossem os melhores marcadores. Mas o que interessa é que se divirtam, é esse o lema dos resistentes, é que haja atividade.“E às vezes é preciso pará-los. Eu levo um saco de bolas e nem consigo tirar as bolas do saco, porque querem todos jogar”, explica. Mas eu já sabia que isto ia acontecer, há 11 anos”, acrescenta.
Qualquer pessoa pode ajudar este projeto através das atividades de angariação de fundos, por exemplo, as caminhadas solidárias, organizada todos os anos pelos resistentes.
A porta para este projeto também está aberta aos jovens da pediatria do S. João, uma vez que também têm pediatria oncológica. Alberto afirma que é “do coração” e que “ninguém fica para trás”.

















![[Crónica] Pendones: de Aljubarrota al Ipiranga](https://static.wixstatic.com/media/0092f5_2f30aa3cc0d04f54bb1dfd219be50746~mv2.jpg/v1/fill/w_333,h_250,fp_0.50_0.50,q_30,blur_30,enc_avif,quality_auto/0092f5_2f30aa3cc0d04f54bb1dfd219be50746~mv2.webp)
![[Crónica] Pendones: de Aljubarrota al Ipiranga](https://static.wixstatic.com/media/0092f5_2f30aa3cc0d04f54bb1dfd219be50746~mv2.jpg/v1/fill/w_471,h_354,fp_0.50_0.50,q_90,enc_avif,quality_auto/0092f5_2f30aa3cc0d04f54bb1dfd219be50746~mv2.webp)