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Pereira de Sousa: "nunca pensei que ia ficar na história da fotografia do nosso país.”

  • Foto do escritor: Contemporâneo Jornal
    Contemporâneo Jornal
  • 10 de jan. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 17 de jan. de 2024

Luís Pereira de Sousa é jornalista. Tinha 30 anos em 1974, o ano em que cobriu um dos eventos mais importantes da história portuguesa: o 25 de abril.

 

Luís Pereira de Sousa é um fotojornalista que já trabalhou no jornal A Capital e no JN. Por muitos anos, viveu uma vida agitada por correr detrás do acontecimento, quase nem dormia à noite porque era chamado aos locais em todo momento.

 

Ao longo dos anos, já cobriu muitos eventos. No entanto, poucos sucessos marcaram tanto a sua carreira profissional como a Revolução dos Cravos. O foto repórter admite que não se imaginava o impacto que teriam as suas fotografias:

 

“O jornalismo, especialmente, naquilo que me diz respeito, foto repórter, a minha missão era escrever por imagens. Portanto, era muito importante para documentar e para ficar para a vida toda. Eu nunca pensei que eu, ao fotografar a revolução de 74, que ia ficar na história da fotografia do nosso país.”, conta.


Sobre a sua vida antes do 25 de abril, Luís relembra:

 “Eu estava a trabalhar para A Capital, que era um jornal da tarde com uma delegação bastante grande, completa, mas em termos de repórteres fotográficos, só tinham um, que era eu. Enquanto os jornais locais tinham os seus repórteres fotográficos, 3 ou mais que não podiam estar em todo o lado porque estavam sujeitos a uma agenda. Ao passo que eu, como avençado e único, era obrigatório estar em tudo o que era sítio. Isso deu-me a possibilidade de ter um arquivo maior que os outros repórteres fotográficos que andavam comigo. Embora que eu ao trabalhar para um jornal da tarde, tinha as minhas dificuldades para despachar o rolo: aquilo que fotografava de manhã, tinha de ser publicado de tarde.”

 

Quando lhe disseram que a revolução tinha começado, o foto repórter não sabia se era verdade ou não. Antes de chegar ao local e ver o que verdadeiramente estava a acontecer, conta que deixou se estar “devagarinho”, porque naquela época ligavam-lhe várias vezes na noite em falso alarme.

 

“Isso prejudicou-me porque ainda podia ter tido a possibilidade de me levantar mais cedo e fazer outras fotografias que não fiz. Por exemplo, os militares a saírem dos quartéis, que é uma coisa que eu não tenho e lamento não ter”, diz o foto repórter sobre esse dia.

 

Não obstante, Pereira de Sousa afirma que, para ele, em termos de fotografia, foi mais importante o 26 de abril. Do dia após a revolução, o jornalista tem fotos de manifestações feitas à frente da PIDE, para a libertação dos presos políticos. “Eu fiz tudo, do princípio da libertação até o fim.”, menciona. Também fotografou manifestações de militantes a agradecer até o quartel-general:


“Esse percurso foi importante, porque antes do 25 de abril havia a oposição, que eram os comunistas. De certa forma, naquela altura, eles também foram importantes, porque organizavam praticamente tudo. Então, enquanto decorria essa manifestação, alguns dos principais comunistas, dos mais conhecidos, foram levados em ombros para o quartel-general. Lá, foram recebidos pelo comandante da região militar, que já estava aberto à população e na varanda houve uma receção e discursos. Foi o mais engraçado que fotografei.”

 

Conta uma outra história que acha engraçada, sobre fotografias que tirou da PIDE:

“Quando foi a ocupação da PIDE e a libertação dos presos políticos, Carlos Azevedo estava a comandar e os fotógrafos estavam em cima nas grades, juntos aos portões da PIDE, a tirar fotografias a quem saia, aos presos políticos e aos PIDES. E várias vezes tentaram correr comigo e tenho fotografias dele a mandar vir comigo dentro da PIDE, para eu não fotografar. E essas fotografias para mim foram engraçadas, na medida em que ele tentou correr comigo e eu consegui manter-me ali e fotografar na mesma.”

 

Outras fotografias que tem no seu arquivo retratam a agitação política do momento e os derrubes e incêndios das sedes, porque afirma que a pós-revolução foi mais no Norte do que no sul. Outro dos seus maiores lamentos é ter perdido as fotografias do primeiro congresso de Aveiro, dos opositores do regime, por ter de despachar o rolo. “Quando acabou o congresso, houve várias manifestações cá fora e andava lá a PIDE toda, metida no meio daquela gente toda, não estavam identificados. E a tiraram as pistolas dos bolsos e assustaram a população e eu ainda fotografei algumas coisas dessas, mas lá está, fiquei sem o material.”, narra.


Quando questionado sobre a sua fotografia favorita, responde que é muito difícil escolher só uma. No entanto, admite que ganhar um prémio da secretária do turismo por uma fotografia “impensável do 25 de abril”, de ciganos na frente da manifestação, lhe deu uma grata surpresa.

 

Luís Pereira de Sousa afirma que nunca vai esquecer o 25 de abril, que “não é um dia para ser esquecido.” Especialmente porque sente que, na atualidade, as reivindicações da Revolução dos Cravos não estão a ser cumpridas:

 

“As promessas que se fizeram no 25 de abril... infelizmente estamos a ver tudo malparado. Antes mesmo do 25 de abril e depois, nunca vi tanta miséria no país. Os estudantes, gente nova, não tem perspetivas de futuro, como nós tínhamos no nosso tempo. Eu lembro-me que tinha emprego garantido, embora se ganhasse pouco. Não há emprego, não há habitação, isto está cada vez pior. E eu gostava de ver o 25 de abril sempre cumprido, mas infelizmente não estou a ver que isto vá para melhor. Mas enfim, temos de viver os dias que temos e nos adaptar.”



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Fotojornalista Luís Pereira de Sousa

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