[Opinião] Proximidade, proximidade, proximidade
- Paulo Silva

- 10 de jan. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de jan. de 2024
Quando em março de 2020 a pandemia veio colocar tudo em causa, ninguém sabia como seria o dia seguinte. Nas televisões, rádios e jornais de índole nacional, a vida seguiu adaptando-se às novas circunstâncias. A informação, no olho do furacão de um cenário inédito e mutável a cada hora, ganhou valor. Os noticiários e as conferências de imprensa da Direção Geral de Saúde tornaram-se visualização obrigatória. A população, fechada em casa ou no trabalho de forma muito restrita, estava mais atenta do que nunca aos dados de disseminação da doença, às medidas de proteção e aos conselhos sobre comportamento em público.
Se era assim com os nacionais, como se vivia nos regionais? Numa palavra: mal. Com redações reduzidas, não há como fazer escalas. As quebras de vendas e do tímido mercado publicitário local, deixaram muitos destes meios de comunicação sem folga para respirar. E se a atenção estava concertada no plano macro, o micro sofria as consequências.
No Entre Margens, por exemplo, a opção imediata foi suspender as edições em papel bimensais. Numa primeira fase, sem data de regresso e, mais tarde, optando por um modelo mensal reduzido. Numa redação com apenas duas pessoas, um diretor e um jornalista, o objetivo seria manter as informações diárias relativas aos números da doença atualizadas via facebook, deixando para o papel algo mais sustentado.
Todavia, da mesma forma como o passar das semanas ia fazendo mossa na moral coletiva, também na redação nos perguntávamos se valeria a pena. Os apoios institucionais iam mantendo a porta aberta, mas sem os pagamentos das assinaturas que naturalmente foram ficando em atraso devido às preocupações maiores, o futuro a curto prazo tornou-se numa incerteza quase fatal.
Na era do instantâneo, será que as pessoas nos leem com atenção suficiente para justificar continuar com o jornal em papel entregue, na sua grande maioria, na caixa do correio lá de casa?
A resposta, espontânea e inesperada, surgiu através de um telefonema ternurento. Um assinante de longa data e idade a corresponder, residente longe dos centros nevrálgicos da vida quotidiana, mesmo de uma freguesia, perguntava se o jornal tinha acabado porque não tinha chegado na data prevista.
À resposta negativa onde se notou o alívio na voz, prosseguiu, dizendo que o jornal era a única forma de saber o que se passava com a pandemia na sua terra. O “jornal faz falta e não pode acabar”, concluía.
Embrenhados pelos ímpetos mediáticos do dia, esquecemo-nos que os jornais e os jornalistas existem para servir as pessoas. Como quarto poder, pilar da democracia, é na manutenção desta proximidade em que devemos investir. Algo particularmente relevante para os pequenos regionais, pois é aí que reside o seu valor intrínseco. Ouvir as pessoas, e contar as suas histórias, porque “ir ao fundo da rua” deve ser tão importante como “ir ao fim do mundo”.
Sem isso, seremos apenas mais um, indistinguível e, como tal, acessório. Vivemos e sobrevivemos graças aos assinantes. Não da venda em banca avulsa ou da quimera digital das redes sociais. Existimos porque entramos na casa das pessoas e fazemos parte da família. Num panorama mediático tão frágil, talvez seja este o segredo: chegar onde outros não chegam.

















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