O Rock está vivo e é vivido à Moda do Porto
- Nádia Neto

- 23 de out. de 2023
- 5 min de leitura
Depois do sucesso da primeira edição, o Rock à Moda do Porto regressou ao Pavilhão Rosa Mota para mais uma edição com dois dias de festival, marcados pelo melhor do rock portuense. Nos bastidores, o Contemporâneo conversou com Trabalhadores do Comércio, Jafumega, Pedro Abrunhosa e Táxi sobre o estado do rock.

A segunda edição do festival “Rock à Moda do Porto” reuniu artistas como Pedro Abrunhosa, Trabalhadores do Comércio, Táxi, JaFumega, Clã e Mão Morta, em dois dias, a norte do país.
Pelos bastidores das noites de celebração do rock portuense, muita azáfama se fazia sentir no desfile dos músicos para dentro e para fora do palco. O Contemporâneo aproveitou o momento para falar com os artistas sobre a definição, saúde e a transformação do rock, mas, afinal: o que faz do rock, rock?
“O Rock não morreu, está com um cheiro esquisito”
Para Sérgio Castro e Joe Médicis, membros da banda Trabalhadores do Comércio, não há dúvidas que o rock ainda sobrevive. No entanto, “às vezes é mal frequentado”, afirmam os artistas que já contam com 43 anos de carreira.
Mais de quatro décadas que não se alimentam só do som das guitarras e dos gritos: “A palavra rock, na realidade, hoje, abarca muitos estilos de música diferentes. O que eu encontro em comum na maior parte deles é a atitude”, afirmam.
Joe Médicis, guitarrista da banda, descreve o rock com uma referência a Frank Zappa, “não está morto, está apenas com um cheiro esquisito”. Isto porque, apesar das gerações mais novas terem sede “de referências”, o rock acaba esquecido, em contrapartida de outros géneros musicais.
Os CD’s e as cassetes foram arrumados na gaveta e a potência do rock também, apesar de, hoje, o consumo de música estar mais facilitado devido às novas tecnologias. A culpa parece ser só uma: a indústria musical. Nos seus primórdios, nos anos 70, era “genuinamente rock”, feito contra o sistema, sentimento que considera se ter perdido no tempo. Fala do rock, através do termo “rebeldia”, mas sente que está a ser abafada.
“Houve uma sofisticação do rock que foi feita pelos próprios artistas, mas por outro lado também foi encomendada e moldada pelas editoras e pelo sistema, por interesses económicos. E, claro, logicamente as coisas mudaram. Há uma coisa que é indesmentível – todos os artistas que tentam ser alternativos e não estar exatamente no sistema, mais tarde ou mais cedo, há uma tentativa do sistema de os absorver”, explica ao Contemporâneo. Aliás, afirma que a banda sente a pressão desde que começou a ter êxito.
Quando a banda estava à procura de uma editora, todas diziam o mesmo: “agora o que é preciso é o pop”, conta. A única maneira de dar a volta à história foi com as próprias armas com que estava a atacar a banda e, por isso, escolheram o nome “Trabalhadores do Comércio", uma forma de ironia de que “nós vamos trabalhar arduamente para fazer aquilo que vocês querem que a gente faça, que é negócio, é dar-vos negócio”. E, assim, da atitude nasceu a banda Trabalhadores do Comércio.
OBJECTO: O DISCO CONTRA O “ABORTO ORTOGRÁFICO”
Mas a prova de que o rock continua a sobreviver é o novo disco da banda. Os Trabalhadores do Comércio aproveitaram o festival para lançar o seu novo disco: Objecto. Dez anos depois desde o último projeto musical, este disco promete ir contra o “aborto ortográfico”, porém, não só título. “Cantar de Emigrassom”, “Os Bampiros” ou “Micas Bidente” são alguns dos novos temas da banda.
“Principalmente de rock, mas não só”, o álbum promete humor, crítica social e políticas intensas. Para os artistas, este projeto acompanha a “evolução orgânica e natural do grupo” da Invicta.

“ROCK À MODA DO PORTO” OU “POP ROCK À MODA DO PORTO”?
Para o José Nogueira, teclista e saxofonista do grupo JaFumega, descrever o rock demoraria mais do que duas horas. “Então, vai ser complicado explicar uma coisa dessas. É uma batida dura, forte. Isso é essencial. É tanta coisa. Rebeldia, mistura de música popular com tudo. É uma música que rouba coisas às outras músicas todas. Alta, um volume alto! Transgressão de uma maneira geral. Não sei se hoje em dia é tanto. Há várias transgressões diferentes, muitas correntes. Há muitos pops que não são rocks, são outras coisas”, resume.

Já Luís Portugal e Mário Barreiros, restantes membros do trio musical, o rock preza pela “quebra de tabus” e “inovação”.
“Para aquilo que se vivia até aí, de repente, foi uma explosão extraordinária de criatividade, de independência. Toda a gente fazia o que queria, em termos musicais, em termos de rock. Foi uma época fantástica. Naquela altura, construiu-se toda uma indústria que não existia. E é claro, depois as coisas foram sendo aos poucos testadas pela própria indústria e pelo comércio. Mais domadas. Hoje em dia, é mais difícil ser autêntico”, admitem que o rock de hoje é muito diferente do que esteve na sua origem.
Mas será que consideram que o rock está se a aproximar do pop? “Eu acho que vão à procura das duas coisas. E ainda mais pelo pop rock. Este festival, por exemplo, é o “Rock à Moda do Porto”, mas é mais “Pop Rock à Moda do Porto”, porque inclui também o pop. E continua a haver bandas incríveis no Porto. Antigas também, da nossa altura. Os GNR, por exemplo, que é uma banda de rock no nome, mas é uma banda de pop também. Sim, um pop bom. Um pop com gosto, inteligente. Não é aquele pop pimba, que agora anda por aí em força”, afirma Luís Portugal.
Do mesmo modo, Pedro Abrunhosa, nome incontornável do rock, considera que ao contrário do pop que “é anódina, é inofensiva”, o rock é “uma música física, mas não é música de corpo. Não é para mostrar o corpo, é uma música que provoca o corpo”.
Abrunhosa vai mais longe e define o rock com a “busca da imperfeição”. O rock é sobretudo uma música que vem da grande tradição da música negra. Nasce dos blues e os blues, nascem da música de libertação. O rock basicamente é uma música de libertação e que tem uma componente política e ética.O rock não é estático , é a música da palavra”, acrescenta.
Acredita que a indústria musical acabou por “mesmizar” muita da música que é feita. Além disso, as rádios também tem influência: “As rádios, por exemplo, afunilam os gostos em função de uma tabela. A comida é um grande exemplo. As pessoas gostam da pastelaria cheia de açúcar, porque é fácil de comer, é fácil de engolir e de digerir. Eu preferia um bolo de bacalhau tuga todo mal amanhado, cheio de borboto a um pastelzinho todo bem embalado”, brincou o artista.
“CABE-NOS A NÓS MANTER A CHAMA VIVA”
“Rebeldia” é a palavra escolhida por João Grande, vocalista da banda Táxi, conhecida pelos temas “Chiclete” e “Cairo”, para descrever o rock. Considera que a chama do rebelde, dentro do rock, estar-se a apagar, mas há que garantir que não apaga por completo: “Cabe-nos a nós e a outros como nós, manter a chama viva”, completou.
Ainda assim, João Grande afirma que “mesmo quem não sabe o que é rock, vem aqui e vê-se pela cara das pessoas que estavam a adorar. E isso é o mais importante”. “Não é preciso que eles saibam o que é rock ou o que não é, isso não interessa nada. O que interessa é que eles estejam a gostar ou não”, conclui.
Com João Jesus

















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