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[Crítica] A Religião Woke: a análise do movimento que dominou o mundo

  • Foto do escritor: Natalia Vásquez
    Natalia Vásquez
  • 10 de jan. de 2024
  • 3 min de leitura
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“A religião woke” é o livro mais recente do professor emérito de filosofia, Jean-François Braunstein. “Woke” significa “acordado”, em inglês. Na atualidade, a palavra é mais bem conhecida pelo movimento woke, predominante nas ciências sociais. Em teoria, este movimento busca combater as desigualdades causadas pela discriminação de raça e de género.

 

O autor, numa primeira parte, analisa a história por trás do movimento woke. Isto é, a origem do termo e como surgiu, o que o autor denomina, “a primeira religião nascida nas universidades”. Braunstein define o movimento woke como uma religião praticada pelas elites intelectuais do nosso tempo, utilizando uma ampla contextualização teórica, que o permite comparar o auge do “wokismo” com os despertares religiosos protestantes.

 

Numa segunda parte, Braunstein analisa, de forma crítica, o que ele define como os três pilares da “religião woke”: a teoria de género, a teoria crítica da raça e as epistemologias do ponto de vista. No seu capítulo sobre a teoria do género, o autor defende a supremacia da biologia e afirma que a escolha voluntaria do género pertence ao “mundo do imaginário”. Na parte sobre a teoria crítica da raça, Braunstein trata da obsessão atual com a raça e de conceitos como o privilégio branco e o racismo sistemático.  No capítulo sobre as epistemologias do ponto de vista, o professor emérito discute como este movimento quer alterar os fundamentos da ciência como a conhecemos.

 

Destaca-se que um dos aspetos mais fortes do livro, é a habilidade do autor de presentar a sua perspetiva de forma clara e com linguagem acessível. Todavia, salienta-se que Braunstein tem uma base teórica robusta para apresentar e apoiar as suas ideias.  O autor organiza as suas ideais de forma bastante coesa, ao longo do texto.

 

Através do seu livro, Braunstein quer ir além da análise, para incentivar a autorreflexão no leitor, um objetivo importante numa sociedade que perde, cada vez mais, a sua individualidade dentro nas massas. É verdade que há propostas, ideais e teorias do movimento ‘woke’ que são absurdas. No entanto, ainda quando o autor reconhece que há reivindicações legítimas por trás do movimento, Braunstein está focado apenas nos lados mais extremistas do “wokismo”.

 

É importante impor controle e limites no alcance do movimento woke, especialmente nas suas políticas mais radicais, como, por exemplo, a completa transformação das matemáticas de uma ciência exata a “algo subjetivo”.  No obstante, o movimento não deveria ser visto, unicamente, como algo ameaçador a todo o racional e iluminado da sociedade.

 

A sociedade está a mudar. Aliás, já mudou, sem importar a opinião individual de se é para bem ou não. Por exemplo, a comunidade trans não vai desaparecer só porque a biologia indica que há apenas dois sexos inamovíveis. Também não deveria desaparecer. A negação da existência das pessoas trans; das construções sociais em torno ao tom de pele, em pró da ideia de “não ver a cor das pessoas”; dos privilégios de certos grupos sociais; tudo em nome de respeitar as ideias que têm governado o mundo até agora, é negar a mudança e não a acompanhar ou tentar a melhorar.  É importante defender a liberdade de expressão, a liberdade individual, mas não acompanhar ou admitir que há reivindicações do movimento que são importantes, é aprofundar ainda mais os extremos.

 

Condenar um movimento que já está a andar e poderia ajudar a muitos, parece menos construtivo que criticá-lo, de forma a modelá-lo para seja útil. O movimento woke, em toda a sua imperfeição e, às vezes, a sua falta de lógica, não vai desparecer nos próximos anos. Ao longo da história, na sociedade, sempre tem aparecido movimentos que tentam reestruturá-la. O bem ou o mal que estes possam fazer dependerá do seu tratamento, dos limites que lhe são impostos, da reflexão individual e comunitária e da crítica para mudar o seu rumo ou desaparecer uma das suas propostas quando seja absurda, não de uma crítica absoluta dos aspetos que poderiam ser mais do que úteis, no mundo atual.

 



Grande Reportagem

La lhéngua que ye l coraçon dua cultura 

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janeiro 2024

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